sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Glaucoma Canino


Aila , com o olho esquerdo bastante aumentado, e o direito que já tinha sido retirado

O glaucoma pode ser definido como um aumento da pressão intraocular (P.I.O.), além do compatível com a manutenção da fisiologia e da função ocular normal, ou ainda, como uma síndrome multifatorial progressiva com aumento da P.I.O., ocasionando a lesão do nervo óptico e perda da capacidade visual.

Dentre as doenças oculares diagnosticadas nos cães, o glaucoma ganha destaque como afecção de difícil conduta terapêutica, sendo uma das enfermidades oculares de maior risco da perda da visão em animais adultos. Um entre 200 cães apresenta glaucoma, ou seja, uma incidência de 0,5%.

Classificação
O glaucoma pode ser classificado de acordo com sua etiologia (congênito, primário ou secundário), condição do seu ângulo de drenagem (aberto ou fechado) determinado pela gonioscopia (técnica de observação direta do ângulo de drenagem com utilização de lentes) e período de tempo que o processo ocorreu (agudo ou crônico). As classificações do glaucoma geralmente estão associadas e são essenciais na seleção de uma terapia apropriada.
O glaucoma congênito é relacionado a fatores genéticos e está presente no nascimento ou logo após o mesmo, sendo considerado raro em animais domésticos.
Na medicina veterinária, o glaucoma primário é o mais estudado, snedo freqüentemente bilateral, iniciando primeiramente em um dos olhos e não estando relacionados à genética, aos traumatismos e às patologias sistêmicas. Esse tipo de glaucoma tem maior incidência em raças como: dálmata, bealge, poodles miniatura, husky siberiano, basset hound, cocker spaniel, dentre outras; sua ocorrência nas fêmeas é de 21:1 quando comparada aos machos; em animais com idade de 5 - 10 anos a incidência é maior do que nas outras faixas etárias. Estudos têm sugerido que o tratamento profilático do glaucoma no olho normal de animais com glaucoma primário unilateral retardam o aparecimento da doença no segundo olho. Sem esse tratamento, o glaucoma no segundo olho desenvolve-se no intervalo de 5 a 10 meses após o diagnóstico no primeiro olho.
O glaucoma secundário é decorrente de afecções pré-existentes e/ou concomitantes. Dentre as etiologias mais comuns no glaucoma secundário, temos a uveite, a luxação anterior do cristalino, neoplasias, traumatismos e hifema.


Sinais Clínicos
Os sinais clínicos do glaucoma são variados, de acordo com a causa e a cronicidade do caso. Na fase precoce do glaucoma de ângulo aberto, a doença não é facilmente diagnosticada, pois os olhos são assintomáticos. O glaucoma agudo é considerado uma emergência oftalmológica, pois com intervenção adequada, pode-se conseguir o retorno da visão do animal.
Os principais sinais clínicos do glaucoma são: aumento do volume do globo ocular, congestão vascular episcleral, edema corneano difuso, midríase, dor (evidenciada por anorexia, depressão, blefarospasmo, mudança de comportamento) e respostas pupilares luminosas e à ameaça fracas ou ausentes.

Diagnóstico
O diagnóstico do glaucoma é baseado na anamnese, na predisposição racial, na sintomatologia, na goinoscopia e na elevação da P.I.O., determinada pela tonometria manual e instrumental de identação (SCHIÖTZ) ou de aplanação (TONÔPEN). A tonometria de aplanação é considerada o melhor método diagnóstico para mensurar a variação da P.I.O.
Deve-se salientar que o glaucoma é uma das afecções que, na maior parte das vezes, é mal diagnosticada. Ainda, a ausência de um diagnóstico precoce e preciso pode impedir um tratamento eficaz.

Tratamento
O manejo do glaucoma em cães, como em qualquer outra espécie, é dependente da causa, severidade e duração do processo, além de uma correta classificação, associando-se a história, os sinais clínicos, a tonometria e a gonioscopia, para a seleção de uma terapia adequada. O tratamento deve ser compatível com a preservação funcional do nervo óptico e, conseqüentemente, do campo visual.
O tratamento clínico do glaucoma canino recebe grande destaque, pois os procedimentos cirúrgicos têm somente 30 a 50% de sucesso na redução da P.I.O., portanto, o tratamento médico único ou em associação a outras drogas ou cirurgias, pode manter a P.I.O. dentre os limites normais e prolongar a visão o maior tempo possível.
Em casos mais severos de glaucoma, não responsívos à terapia médica, opta-se pela ablação química do globo ocular ou ainda pela enucleação.
A literatura preconiza que o tratamento do glaucoma canino deve ser realizado e acompanhado por um oftalmologista veterinário logo após o diagnóstico inicial.
Deve-se ainda destacar que, mesmo com o avanço tecnológico na Medicina Veterinária, as pesquisas no Século XXI ainda estão procurando entender e desvendar a patofisiologia do glaucoma, bem como, o efeito e o mecanismo de ação dos fármacos utilizados no controle da P.I.O. A busca por técnicas cirúrgicas eficazes na redução da P.I.O. também tem sido alvo de pesquisas.

Prof. Ms. Ricardo Nery Gallo
Mestre em Cirurgia - Oftalmologia - FMVZ- UNESP - Campus Botucatu. Diretor Hospital Veterinário e Fazenda Escola da Faculdade Comunitária de Campinas FAC 3 - Campinas - Anhanguera Educacional. Professor de Técnica e Patologia Cirúrgica da FESB - Bragança Paulista.

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